No início do século XIX, o domínio colonial europeu começou a declinar diante das ondas de libertação e das revoluções que tomaram conta da maioria dos países da América Latina. O venezuelano Francisco de Miranda foi considerado o mentor espiritual dessas lutas, seguido por Simón Bolívar, aclamado como libertador, herói e líder não apenas na Venezuela, mas em toda a América Latina.

A independência venezuelana do colonialismo espanhol, iniciada em 1520, foi conquistada em 1821 com a revolução liderada por Bolívar. Em reconhecimento, o país passou a ser oficialmente chamado “Venezuela Bolivariana”, nome que também batiza a moeda nacional, além de ruas, escolas e universidades de grande importância.

É notável que Bolívar e outros líderes revolucionários foram influenciados pelas revoltas dos escravos muçulmanos contra o colonialismo português no Brasil, especialmente pela Revolta dos Malês em 1835. Após essa época, a primeira geração de muçulmanos trazidos como escravos para a Venezuela foi assimilada pela sociedade local. Os remanescentes que tentaram preservar sua identidade e fé enfrentaram a perseguição da Inquisição espanhola. Hoje, restam apenas traços visíveis entre os descendentes venezuelanos que remetem à herança islâmica.

A Migração Árabe e Muçulmana

Em períodos posteriores, crises econômicas, políticas e as dificuldades de vida nos países árabes e islâmicos, juntamente com as duas guerras mundiais, levaram muitos árabes muçulmanos e cristãos a migrarem para a Venezuela. A maioria era originária do Levante, especialmente Síria, Líbano e Palestina. A comunidade síria é estimada em cerca de 500 mil pessoas, seguida pela libanesa, com aproximadamente 300 mil. A comunidade palestina é menor, com cerca de mil pessoas. Outras comunidades árabes e muçulmanas também estão presentes, embora em número reduzido, incluindo migrantes de Trinidad, Brasil e Chile.

Inicialmente, muitos desses árabes trabalharam como vendedores ambulantes. Em pouco tempo, destacaram-se como empresários, donos de importantes comércios e empresas, desempenhando um papel econômico significativo no país. Isso fez com que partidos políticos buscassem construir relações de entendimento com essa comunidade, que agora inclui advogados, juízes, médicos, engenheiros e professores universitários.

Os Muçulmanos na Venezuela Atual

A maioria da comunidade muçulmana vive em Caracas, Ilha de Margarita, Maracaibo, Maturín e Barcelona. A comunidade palestina, em sua maioria, reside em Valencia, onde possui um centro islâmico e uma mesquita. Há também várias associações beneficentes, centros islâmicos, clubes árabes, escolas e um número considerável de oratórios e mesquitas.

O maior deles é a Mesquita Sheikh Ibrahim bin Abdul Aziz Al-Ibrahim, localizada em Caracas. Inaugurada oficialmente em 21 de abril de 1993, é a maior mesquita da Venezuela e de toda a América Latina. A ideia de sua construção nasceu da necessidade da comunidade islâmica local por um espaço de oração e fortalecimento de sua fé. Durante uma visita à Arábia Saudita, o presidente venezuelano Carlos Andrés Pérez concedeu um terreno de mais de 5.000 m² para o projeto, financiado pela Fundação Ibrahim bin Abdul Aziz Al-Ibrahim.

A mesquita combina elementos arquitetônicos tradicionais e modernos. Durante a inauguração, o presidente venezuelano destacou que a mesquita não seria apenas um local de culto, mas também um símbolo de amizade entre o povo venezuelano e os povos árabes muçulmanos. Desde então, o centro islâmico tem desempenhado um papel importante na promoção do Islam e no fortalecimento da comunidade muçulmana na Venezuela.

Desafios e Perspectivas

Hoje, a comunidade muçulmana enfrenta desafios devido à grave crise econômica da Venezuela e aos conflitos do país com as potências ocidentais, especialmente os Estados Unidos. Esses fatores impactam negativamente os muçulmanos, que, apesar de recursos disponíveis, enfrentam dispersão e a falta de estratégias unificadas.

A cooperação e a unidade são vistas como essenciais para a continuidade da comunidade muçulmana na Venezuela. Há um esforço silencioso de líderes comprometidos com a construção de instituições religiosas, culturais, econômicas e políticas que fortaleçam a presença islâmica no país e promovam um futuro sustentável para a comunidade.

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